Em Democracia, todos temos o direito (apetecia-me dizer ‘o dever de...’) a assumir uma opinião. Como tal, considero tão respeitáveis e válidas as opiniões pelo SIM à despenalização da IVG, como aquelas que, de uma forma coerente e responsável, se batem pelo NÃO.
No entanto, parece-me também que, essa mesma e nem sempre bem tratada democracia, exige que, ao defendermos essa dita opinião, assumamos, em simultâneo, e na totalidade, as consequências da mesma. E é aqui que a firmeza de alguns ‘NÃOs’ começa a vacilar...
Ao defender o SIM, no referendo sobre a despenalização da IVG, assumo sem preconceitos que estou a dizer que as mulheres que decidem interromper a gravidez até às 10 semanas (qualquer que seja a causa dessa opção), não devem ser, de modo algum, penalizadas por isso. Estou também a assumir que essa interrupção pode (apetece-me de novo dizer ‘deve’) ser realizada numa unidade do Serviço Nacional de Saúde (desde que esse seja o desejo da mulher), em perfeitas condições higiénico-sanitárias. Ao assumir isto, autorizo, com certeza, que uma parte dos meus impostos seja gasta para garantir a dignidade das mulheres e resolver um problema premente de saúde pública. Mas assumo também que estou a dar prevalência ao valor da maternidade responsável e desejada, relativamente a um embrião em estágio muito precoce do seu desenvolvimento. Mas se lhe quiserem chamar uma forma de vida, então eu também assumo, de novo sem preconceitos, que privilegio a vida numa forma mais ampla, mais completa, recheada de afectos, sem culpas e sem traumas. Mesmo que aumentem o dramatismo da situação e acrescentem um coração a bater, eu continuo, sem remorsos, a considerar também os outros corações e a afirmar que um coração sem afecto, pode bater, mas não VIVE.
Era esta frontalidade que eu gostaria de ver nos defensores do ‘Não’. Mas, na maioria das intervenções ela não só está ausente, como o que emerge é uma hipocrisia beata, que se quer fazer passar por benfeitora.
Ainda não percebi muito bem: os defensores do ‘Não’, não querem ver as mulheres na cadeia (é uma coisa feia, que não fica nada bem defender...), mas também não querem que se altere a lei?!... Estranho?! Pois..., mas, na cabeça desta gente, não é incompatível... Então o que defendem é assim uma coisa meio cinzenta (e ilegal, já agora), em que a lei – no papel - penaliza (para preservar as nossas consciências, é sempre bom), sujeitando as mulheres a uma pena até 3 anos de prisão, mas depois, nos tribunais – isto é, na prática – deverão existir uns juízes muito bonzinhos, que fecham os olhos à lei, e, de forma caridosa (e se possível deixando uns bons conselhos para orientar a vida dessa mulher perdida), dizem que, afinal, era só para assustar. E, pronto!, depois deste final feliz, as nossas consciências podem de novo dormir descansadas!
Então a estes eu digo: as mulheres (porque assumem os seus deveres) querem ter direitos, não querem caridade!
Caros defensores do ‘Não’, assumam com coerência as vossas legítimas opiniões. Tenham coragem de dizer que para vocês a vida de um embrião é tão relevante, que justifica que uma mulher que interrompe uma gravidez seja julgada em tribunal e cumpra uma pena de prisão, que pode ir até 3 anos!
Eu sei que as vossas consciências não ficarão tão tranquilas, mas, pelo menos, merecerão mais respeito.
Mafalda Carvalho
De
gjlumiar a 7 de Fevereiro de 2007 às 22:43
Cara Mafalda,
Como se pode perceber, o GJLumiar é defensor do Não, no entanto a seguinte opinião é estrictamente pessoal.
Eu também concordo que todas as opiniões são válidas, desde que sejam coerentes e responsáveis, tanto para o sim como para o não (algumas defesas do sim também primam pela ausência destas características).
A questão do aborto é sempre muito complicada, porque assenta num princípio ético subjectivo: o embrião é vida ou não? Devido a esta subjectividade, a discussão é um pouco redundante...
Para mim, é uma vida, e como tal condeno a sua interrupção, tal como condeno um "vulgar" homicídio. E não tenho problemas de consciência se com o meu voto "Não" uma mulher, que eu considero não ter o direito de matar, fôr penalizada ou condenada.
Penso que a humilhação da mulher, que tanto falam os defensores do sim, não reside no tribunal, mas sim no acto de abortar.
Eu quero acreditar que ninguém aborta de ânimo leve, mas seria muito mais valente e progessista se o Governo adoptasse medidas sociais de apoio à natalidade, e não o facilitismo económico (para o Estado) do aborto.
De
gjlumiar a 7 de Fevereiro de 2007 às 22:45
esqueci-me de assinar
Sara Vidal
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