vivemos numa sociedade egocentrica, onde o Homem é individualista, egoísta, acomodado, banal, facilitista, caso raras excepções, onde determinadas situações sociais nos "obrigam" a reinvidicar posições. que chatice!
mas é curioso como alguns temas mais sensacionalistas mexem com os nossos sentimentos e neurónios, e decidimos que é altura de tomar armas e palavras para lá encaminharmos a nossa sociedade para um rumo mais desenvolvido, progressista, enfim, moderno...
vejamos o caso do aborto: toda a gente tem direito a opinar, e mais faltaria se assim não fosse! como qualquer direito e dever cívico, vemo-nos felizmente obrigados a reagir, a manifestar, a agitar a mentalidade social colectiva. E ainda bem que assim o fazemos!!! É sinal que a nossa democracia vai gozando de alguma boa saúde.
mas por outro lado, deixa-me reflexiva (para não dizer triste), porque constato que é só para estes pontos polémicos que nos debatemos, que nos entregamos à luta pelos nossos ideias, sejam eles de que ideologia forem.
permitam-me que vos diga: gostaría de ver tanta mobilização como se está a ver neste referendo sobre outras problemáticas sociais no nosso país e, atrevo-me a dizer, mais urgentes, tais como: reforma do apoio social, para que, por exemplo, se possa evitar abortar, melhoria da educação (que não se limita ao pagamento de propinas), melhorar o acesso à cultura, à saúde...
Juntemo-nos para reinvidicar a melhoria do nosso sistema social!!! mas claro, este tema já não é tão "humilhante"; exigamos aos nossos dirigentes uma lei social eficaz, para que não caiamos no facilitismo político de despenalizar/legalizar o aborto...
Seremos capazes ou teremos interesse de sair à rua e de fazer campanha por uma reforma social digna, pragmática e eficaz? sincera e infelizmente, tenho as minhas dúvidas...
Sara Vidal
Tenho ouvido ultimamente o sr. Primeiro-Ministro e o sr. Ministro da Saúde, e com eles todo o séquito que habitualmente os acompanha em coro, insistir na vergonha que é a afluência de mulheres grávidas portuguesas a Badajoz, ao que eles dizem para abortar em clínicas dessa especialidade (não sei se hei-de chamar-lhe médica, ou se ainda não estará reconhecida como tal).
Não podemos permitir a continuação de semelhante escândalo, dizem eles tremelicantes de patriótica indignação, é obrigação do Estado português assegurar a todas as cidadãs que o queiram fazer a possibilidade de abortar livremente e com todas as garantias aqui, no generoso país que é o delas.
Não sei se haverá ou não essa falada romaria abortista, desconheço o facto e não tenho acesso às fontes de informação de Suas Excelências.
Porém, o que sei de ciência certa é que ouvi não há muito tempo as mesmas vozes troçando dos atavismos anacrónicos que levavam alguns portugueses a protestar contra as medidas de Suas Excelências que obrigam as grávidas portuguesas de extensa zona do país a deslocarem-se para Badajoz a fim de ali darem à luz. Segundo explicaram então às nossas mentes obscurecidas por séculos de anti-espanholismo primário, isso de fronteiras já não é do nosso tempo. E todos os critérios de racionalidade financeira apontam para a conveniência da solução que nos arranjaram: as portuguesas que queiram ter as crianças que vão a Badajoz, que vão muito bem e serão bem atendidas.
Nós não temos dinheiro para essa extravagância de sustentar maternidades deficitárias, não podemos esbanjar com esse luxo de terem os filhos em Portugal.
O que os nossos hospitais terão que garantir, isso sim, é que no caso de estarem interessadas em os abortar poderão fazê-lo por cá, sem listas de espera nem mesquinhices economicistas. Nem que tenha de formalizar-se uma via verde para as candidatas, e organizar-se uma equipa permanente só para isso em cada hospital distrital, e reservar um bloco só para essas intervenções, e destinar um reforço no orçamento para que não haja falhas.
Pode lá admitir-se que uma portuguesa tenha que ir abortar a Badajoz!
fonte ~ http://viriato.